sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Sempre é tempo de … FAZER POESIA !

Como não tenho habilidades para escrever poesia (já é muito abuso e pretensão ter um blog)… então decidi colocar aqui um texto que conheci aos 15 anos por meio de um amigo do ES, cidade de Guaçuí.

Nessa época, eu estava naquela fase adolescente  in-su-por-tá-vel, de achar que o mundo estava contra mim (ué, ainda sou então rsrsrs), de ver todas as pessoas a minha volta muito melhores, muito mais especiais e mais capazes de tudo que eu.

Aí, nos pés do Cristo Redentor (no alto da cidade tinha uma mini réplica mini do nosso Cristo aqui do RJ), ele me entregou uma cartinha que tinha esse poema e deu aquela super aula de motivação dizendo q não me preocupasse, que eu era especial e blá blá blá.

Os anos passaram (ops, o dobro… trintei), o amigo virou psicólogo e se perdeu no mundo, mas a cartinha eu guardei e esses dias de férias, fazendo uma pseudo arrumação na minha papelada, encontrei e relembrei esse momento, e o poema que sei de cor até hoje.


Poema em linha reta

Fernando Pessoa(Álvaro de Campos)

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?


Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

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Amo. Amo. Amo. Só isso a dizer. Não poderia ser mais incrível.

Enfim , já viu como só aparece gente perfeita? 
Ah, lá em casa  volta e meia rola uma encrenquinha básica (eu gaaaaaasto,  ele economiiiiza), estou meio que insatisfeita com minha vida profissional, cheia de dúvidas sobre onde morar, onde trabalhar, ter ou não filhos, estudar ou não outra língua. 
E no mar das minhas indecisões, sigo boiando e não resolvo nada. 
A minha ansiedade é tão grande que me deixa meio inerte. Prostrada.

E aí eu olho em torno de mim e vejo estes sorrisos, esses sucessos marcados, essa felicidade IRreal...

Se eu pudesse, queria voltar por uns minutos no topo daquela cidade, nos meus 15 anos, pra sentir o vento no rosto e não me sentir tão deslocada nesse mundo cor-de-rosa.




beijos da sempre vil Celle

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